CNF: A nova revolução da tecnologia em telecom
Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage no Brasil
O setor de telecom foi visto por muito tempo como um negócio estável e que pouco mudou na estrutura da rede entre o primeiro telefonema de Nova York para São Francisco, em 1914, até a década de 1980. Grandes mudanças tecnológicas vieram com a fibra óptica, mas isso ainda envolvia hardware de rede, pois cada função normalmente tinha uma “caixa” para acompanhá-la.
Funções como firewalls, VPNs, roteadores de redes e balanceadores de carga foram todos implementados em hardwares físicos de propriedade das empresas. Isso era caro, ocupava muito espaço e energia no rack, além de exigir equipe especializada para trabalhar em cada dispositivo. E o pior, a inovação era lenta e limitada por ciclos de atualização do hardware. O setor exigia uma solução melhor.
Em 2012, uma equipe global de representantes de várias telecomunicações redigiu um white paper que definiu a ideia da NFV – virtualização das funções de redes, e foi aí que tudo começou a mudar.
Adeus caixas. Olá, VMs – onde tudo começou
A grande ideia por trás da NFV era mover as funções de redes que estavam sendo executadas em hardware específico para as máquinas virtuais, e isso foi possível com o surgimento do VMware e outros hipervisores. Qualquer coisa que possa ser feita em uma caixa específica também pode ser feita em um kit de data center: servidores, armazenamento e equipamentos de redes. Esta ideia simples e muito poderosa trouxe benefícios como redução de custos e no consumo de energia, agilidade no compartilhamento de recursos e dimensionamento de serviços e portabilidade para facilitar combinações de hardware.
Mas, como sabemos muito bem, toda transformação traz desafios. No caso da NFV, os principais foram desempenho, migração, gestão/automação e segurança. Claro que nem todos esses desafios são relacionados ao armazenamento, mas alguns encontraram sua solução nas infraestruturas modernas. Isso porque as empresas do setor precisam de ambientes confiáveis e de alto desempenho que não sejam criadas para um fim específico, como as caixas.
O “hardware de comodity” se refere ao hardware que suporta padrões abertos e ajuda a resolver os principais problemas que surgem ao longo da virtualização de funções de rede 5G. Entre os benefícios do armazenamento moderno estão confiabilidade e resiliência, baixa latência, integração com estruturas de gerenciamento e automação, redução de espaço físico e energia e, finalmente, disponibilidade constante. Ainda assim, telecom exigia mais agilidade na inovação.
A chegada dos contêineres: A revolução da CNF
AS VNFs estão transformando o setor de telecomunicações com máquinas virtuais, mas o setor está dando mais um passo adiante com as CNFs – funções de rede nativas da nuvem, que usam contêineres como base para essa nova revolução. Por esse motivo, às vezes nos deparados com a nomenclatura “funções de rede contêinerizadas” – o que, particularmente, é um termo melhor, porque nativo da nuvem não é sobre onde uma aplicação é implementada, é sobre como isso é feito. As aplicações nativas da nuvem podem estar em servidor físico, em um data center, em uma nuvem pública ou em qualquer outro lugar.
A implementação dos serviços 5G apresenta desafios e oportunidades para as operadoras, porque com isso uma série de novas ofertas de serviços será possível, abrindo linhas de negócios inteiramente novas. O desafio, no entanto, será atender a essa demanda e ser ágil o suficiente para criar serviços rapidamente e superar a concorrência.
As CNFs ajudam a resolver alguns dos desafios que ainda existem ao usar a virtualização e as VNFs. Entenda abaixo os principais:
Escalonamento automático. Uma das coisas positivas sobre os contêineres é que eles podem gerar mais de si mesmos de forma quase mágica. É possível ativar um novo contêiner toda vez que algum processo precisar de um e pode reduzi-lo quando estiver concluído. Não é necessária a intervenção do operador, o Kubernetes lida com tudo via código. Esta é uma grande vitória para as grandes redes de telecomunicações.
Suporte para DevOps. O DevOps revolucionou a programação, permitindo integração contínua/entrega contínua (CI/CD). Na prática, isso significa que as operadoras podem fornecer novas funções, produtos e atualizações de produtos de forma muito mais rápida, com casos conhecidos como o da T-Mobile, que reduziu o tempo de implementação de aplicações de cerca de sete meses para menos de um dia.
Alta tolerância a falhas e reinicialização rápida. As CNFs são baseadas em microsserviços, o que pode reduzir bastante o risco operacional e de segurança de falhas maciças. Os contêineres podem reiniciar quase instantaneamente e as atualizações podem ser realizadas sem tempo de inatividade, permitindo reversões automatizadas e rápidas, se necessário. Se um contêiner falhar, o sistema pode gerar um novo de forma automática.
Monitoramento e relatórios. Devido ao seu escopo, as redes de telecomunicações são altamente dependentes de um bom monitoramento e relatórios. Felizmente, existem muitas ferramentas no mundo do Kubernetes para fazer isso, começando pelo próprio Kubernetes. Outras ferramentas incluem o Prometheus para monitoramento e o Grafana para relatórios e alertas.
Sua equipe está pronta para lidar com as CNFs?
Embora os desenvolvedores amem o Kubernetes e os contêineres, eles ainda representam um desafio para as equipes de infraestrutura que não estão familiarizadas com essa tecnologia e com o amplo escopo de tarefas necessárias de gerenciamento de dados, como capacidade, backup de dados, recuperação de desastres, segurança, migrações de dados e muito mais.
Os sistemas legados não funcionam porque não reconhecem o contêiner, então, a forma mais segura de realizar a transformação de forma mais natural para as equipes de TI é optar por uma solução nativa de contêiner para fornecer esses serviços de dados corporativos, que oferece o melhor dos dois mundos.
Uma plataforma preparada para isso é capaz de combinar software para simplificar e agilizar os processos e combiná-lo com uma solução de orquestração (como o Kubernetes), para criar uma camada de armazenamento que pode ser operada da mesma maneira em vários clusters e situações, mantendo a flexibilidade do espaço necessário para configurar e otimizar clusters individuais para atender às necessidades específicas.
Dessa forma, a solução lida com todos esses serviços para a equipe de infraestrutura e funciona tanto no armazenamento físico quanto na nuvem pública, virtualizando a infraestrutura subjacente e fornecendo armazenamento consistente e serviços de dados, como alta disponibilidade, recuperação de desastres, backup e segurança de dados.
Em poucos anos a tecnologia trouxe à telecom muito mais transformações na última década do que ao longo do seu centenário, e com essas mudanças rápidas notamos quanto pode ser feito pelos profissionais e pela população. Esse é um setor que nasceu tecnológico e precisa avançar no ritmo acelerado de inovação – e as empresas sabem que, daqui em diante, inovar virou sinônimo de resiliência no mercado.